O peixe ganhou um nome: Tico. Na verdade, não gostei muito. Para mim, peixe tem que ter nome de gente e com pelo menos três sílabas. Ulisses, Homero, Godofredo, Dagoberto. Mas tudo bem: o peixe não era meu, era do meu filho.
O fato é que eu fui desenvolvendo uma certa relação de afetividade com o peixinho vermelho. Achava muito estranho passar ao lado do aquário, sabendo que um ser vivo estava ali dentro, e não cumprimentar. Pois é, comecei a falar com o peixe. E acho que ele passou a gostar de mim também, pois normalmente a minha presença estava diretamente relacionada às bolinhas de ração. Que rapidamente aumentaram - duas porções diárias de cinco bolinhas. Ninguém merece comer uma só vez por dia.
O peixe nunca demonstrou muito brilhantismo. Às vezes, demorava séculos para encontrar as bolinhas na superfície. Nas trocas de água semanais, nunca aprendeu que a peneirinha não ia fazer nenhum mal - dava voltas e voltas no aquário, fugindo de mim e ouvindo meus palavrões. Eu cheguei à conclusão de que ele não era muito normal.
Um ano depois de chegar, o peixe ficou doente. Um dos olhos inchou. Comprei três tipos diferentes de remédio, que custaram mais que o preço de um peixe novo. Tratei durante quase dez dias, fracionando dosagens e pingando coisas estranhas na água - que, ora ficava azul, ora amarela. Ele foi ficando quietinho, não queria mais comer, nadava com lentidão. E morreu. Depois de uma tarde mais sofrida, ficou lá parado, no fundo do aquário, de lado. Eu chorei. Fiquei triste, esperando que ele soubesse que eu não falava a sério quando dizia que ele não era normal.
Meu filho, de férias na casa da avó, demorou mais para ficar sabendo. O que não reduziu o tamanho do desastre, pois tive um momento de cretinice e contei para ele, por telefone. Ele parecia tão adulto, achei que fosse mais fácil ficar sabendo logo. Mas o moleque ficou arrasado, chorou e soluçou um tempão. Disse que eu deveria ter deixado o peixe morto no aquário, para que ele pensasse que o amiguinho estava só dormindo.
Na verdade, quase todo mundo que conheço apoiava minha primeira idéia: comprar um peixe novo, da mesma cor, substituir o Tico e não deixar que meu filho soubesse. Ponto final. Mas eu não consegui. O peixe era um projeto dele, mas se tornou uma partezinha do meu dia-a-dia, e a gente é responsável pelo que cativa etc, etc. Não era um peixe qualquer. Era um peixe que tinha cativado gente.
Daniela Lepinsk Romio, cronista, mãe do Caio e da Alice - e da Cacau também, uma gata (porque esse negócio de aquário é muito frustrante).
Adorei! Parabéns pelo blog ... bjos Iris
ResponderExcluirObrigada, linda. Está meio abandonado, mas retomei!
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