Elvis lá em casa não era Presley. Era simplesmente “o Elvis”, uma pessoa da família. Eu cheguei a confundi-lo com meu pai, em uma capa de disco, quando tinha uns quatro anos. Elvis morreu no mesmo ano em que eu nasci. Mesmo assim, sempre foi tão parte da minha vida como se ainda estivesse vivo. Claro que a paixão foi herdada: a pessoa mais doente por Elvis que conheço é minha mãe. E contagiou as quatro filhas.
Elvis era genial, sensacional. A voz, fora do comum, potente, extensa, afinada e com aquele timbre que só os negros costumam ter. A atitude ousada, que lhe rendeu preconceito tanto da elite quanto dos negros na década de 1950, por cometer o sacrilégio de misturar o country americano ao blues. Que maravilha de sacrilégio.
Elvis era genial, sensacional. A voz, fora do comum, potente, extensa, afinada e com aquele timbre que só os negros costumam ter. A atitude ousada, que lhe rendeu preconceito tanto da elite quanto dos negros na década de 1950, por cometer o sacrilégio de misturar o country americano ao blues. Que maravilha de sacrilégio.
Quem nunca ouviu Hound Dog no último volume ao volante não se divertiu dirigindo. E os primeiros acordes de Suspicious Minds, inconfundíveis? A fantástica Jailhouse Rock e a monumental It’s now or never fazem parte do meu rol de preferidas. Mas também sou apaixonada por In the ghetto, um protesto que pode soar simplista hoje em dia, mas continua tocante.
E o que Elvis fez com a já maravilhosa Hey Jude, de Paul MacCartney, é algo para se tratar à parte. Hey Jude na voz de Elvis é grandiosa, sentida, bela. Assim como é grandiosa a interpretação dele para Bridge over troubled water, obra-prima de Paul Simon e Art Garfunkel. Chavão, mas eu adoro.
A verdade é que Elvis era bom com as baladas mais sentimentais e melosas – e melhor ainda com o rock furioso. Ele se divertia cantando, dançando e tocando. E era lindo, tão absurdamente lindo e carismático como um cara pode ser. Ele usava capa, como um super herói. Tenho saudades até dos filminhos bobos que ele estrelou e que me embalaram a infância nas sessões da tarde.
Elvis foi mais uma vítima de overdose de medicamentos, de gente aproveitadora que se aproxima de grandes artistas e não se importa que a saúde deles vá pro buraco, desde que a grana continue entrando. Morreu jovem, há exatos 35 anos, deixando tristeza, fãs ensandecidos e um desafio que continua em aberto: que alguém o supere. Vai ser difícil, cara.
Não sei para onde ele foi. Se existe um céu, sua voz garantiu passagem expressa pra lá. Não sei para onde as pessoas vão quando morrem. Mas de uma coisa eu tenho certeza: o lugar para onde Elvis foi agora é muito mais feliz. Continue em paz, onde quer que esteja.
Daniela Lepinsk Romio, cronista que sente uma falta danada de coisas que nem viveu. E-mail: jornalista.daniela@uol.com.br